Cooperar em língua portuguesa para (des)envolver pessoas e territórios

2010-11-27

16 a 19 de Novembro de 2010, Torres Novas

O seminário «Cooperação lusófona e desenvolvimento rural», que decorreu entre 16 e 19 de Novembro, em Torres Novas, no âmbito dos III Encontros da Lusofonia, traduziu-se numa ampla partilha de experiências, a (re)afirmar através da constituição de uma Rede Lusófona para a Cooperação e Desenvolvimento Rural.

Numa organização conjunta da ADIRN - Associação para o Desenvolvimento Integrado do Ribatejo Norte e Câmara Municipal de Torres Novas, candidatada ao programa ProRede Rural Nacional, o seminário arrancou no auditório da Biblioteca Municipal com a presença do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, que considerou a iniciativa «um exemplo do que se faz e pode ser feito com criatividade e imaginação com recursos a meios de financiamento comunitários, para honrar os objetivos das relações de Portugal com os países da lusofonia».

Salientando a oportunidade desta parceria, o presidente da ADIRN, Pedro Ferreira, sublinhou a necessidade «imperiosa de relembrar as nossas potencialidades nacionais, as riquezas naturais a explorar e tentarmos descobrir, também no mundo rural, uma parte da solução para esta fase negativa que urge ultrapassar».

O seminário juntou cerca de uma centena de participantes de todo o mundo lusófono, num ambiente informal e animado. Um encontro marcado por um programa intenso ao longo dos quatro dias que fortaleceu ainda mais os laços de cooperação entre os territórios e estreitou as relações profissionais e pessoais. De resto, o programa pautou por vários momentos facilitadores desta proximidade, como as «visitas técnicas» ao território de intervenção da ADIRN (concelhos de Alcanena, Ferreira do Zêzere, Ourém, Tomar, Torres Novas e Vila Nova da Barquinha) que permitiram conhecer, provar e respirar os sabores e aromas do Ribatejo Norte, e lançar perguntas, em português.

Porque o objectivo do seminário foi o de partilhar experiências, as atenções centraram-se, na quarta-feira de manhã, nos processos de cooperação em curso entre os municípios de Torres Novas e Ribeira Grande (Cabo Verde) e entre a ADIRN e o município do Sal (Cabo Verde), na experiência de cooperação do GAL Monte com a Comissão Regional de Parceiros de Santo Antão, em Cabo Verde e no projeto «Cooperar em Português» que reúne diversos GAL portugueses e outras organizações de desenvolvimento local dos países lusófonos.

Exemplos de experiências entre Grupos de Ação Local (GAL) e entidades das comunidades dos países de língua portuguesa que assumem especial importância no actual contexto de mudança e complexidade, segundo a presidente da Federação MINHA TERRA, Regina Lopes, frisando as competências adquiridas pelas entidades gestoras do programa LEADER e que permitem afirmar a relevância da cooperação no contexto das estratégias de desenvolvimento local desenhadas para os territórios rurais.

Realçando a «excelente oportunidade que a cooperação poderá significar no sentido da consolidação dos territórios rurais e dos GAL», Regina Lopes destacou a cooperação envolvendo países de expressão portuguesa, pois «a língua, a história e a cultura constituem factor de união e facilitação da cooperação em português e uma vantagem competitiva relativamente a outros processos de cooperação».

Na quinta-feira, sob o lema «Oportunidades», reunidos numa mesma mesa, os representantes de Angola, Cabo Verde, Goa, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste sublinharam a importância da cooperação nas estratégias de desenvolvimento dos territórios (focada desde logo no primeiro painel), evidenciando a necessidade de integrar a dimensão do desenvolvimento rural nos processos de cooperação.

Para lá das expectativas ao nível da educação, protecção civil, qualificação das pessoas, prevaleceu a ideia de que a cooperação pode e deve ser vista como uma oportunidade para promover o desenvolvimento integrado dos territórios. Haja vontade porque meios financeiros existem, deixou claro a gestora do PRODER, Gabriela Ventura, na sua intervenção.

Sublinhando a prática «quase científica mas também emotiva» dos GAL - porque «a dinamização das zonas rurais não se faz só com meios financeiros mas também com emoções e afectos» -, a gestora do Programa assegurou que o envelope financeiro de 4,5 mil milhões de euros (450 milhões de euros dos quais afectos à Dinamização das zonas rurais - Abordagem LEADER) do PRODER constitui uma grande oportunidade para apostar na cooperação, nomeadamente com os países de língua portuguesa.

Gabriela Ventura concluiu a sua intervenção, num reconhecimento do trabalho dos GAL, pelo seu empenho, determinante para uma boa execução financeira do Programa. «Acredito nos GAL, na abordagem LEADER e na cooperação», disse, informando que dos 12,5 milhões de euros disponíveis para a cooperação, cerca de metade ainda se encontra por atribuir.

Celebrando a língua portuguesa e os laços que proporciona, o seminário encerrou com o lançamento do livro «Kika e o escritor de sonhos», da autoria de António Rodrigues (o presidente do Município) e de Maria Alexandra Sirgado (ilustração). Uma história de amizade entre uma criança e uma andorinha, da qual nasceu a cooperação entre as pessoas de Torres Novas e as de Cabo Verde, publicada com o apoio do ProRede Rural Nacional.