2022-06-30
Iniciativa "Desenvolvimento Local em Portugal - Uma História Contada na Primeira Pessoa"
Testemunho de José Manuel Alho, ADIRN/CCDR Lisboa e Vale do Tejo
A minha aproximação às dinâmicas do desenvolvimento local decorre da minha ação como ativista ambiental no final dos anos 80.
Era para mim claro e, para a generalidade dos que militavam na causa ambientalista, que a salvaguarda do ambiente passava por conseguirmos modelos de desenvolvimento compatíveis com a conservação dos ecossistemas, das paisagens dos habitats e das espécies e também da identidade das comunidades e dos territórios.
Tinha a forte convicção que só conseguiríamos preservar os valores patrimoniais nos territórios se conseguíssemos incrementar estratégias de desenvolvimento que garantissem melhores condições socioeconómicas para os seus habitantes envolvendo-os nas dinâmicas de valorização dos seus recursos e atividades.
Essa valorização teria de ser um compromisso entre a preservação de atividades e recursos e a sua adaptação sustentável às novas tendências da procura sobretudo de origem urbana.
O Turismo aparecia nesta equação como uma atividade que se bem planeada e com boas práticas de execução e gestão poderia ser o garante desse compromisso ao trazer para território uma teia de interações com impacto direto na revalorização das atividades tradicionais como as explorações agrícola, florestal e pecuária, o artesanato e as tradições comunitárias.
Estive desde o primeiro momento na fundação da ADIRN-Associação de Desenvolvimento do Ribatejo Norte, na sequência das dinâmicas dos trabalhos que estavam a ser desenvolvidos, à época, no âmbito do PDAR Programa de Desenvolvimento Agrícola Regional e durante estas 3 décadas tive a honra de participar nos seus órgãos sociais nomeadamente no seu Conselho de Administração em representação quer do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros quer como representante do Município de Ourém.
Também fui membro do Conselho de Administração da ADAE-Associação de Desenvolvimento da Alta Estremadura e participei na APRODER e na Leader Oeste, outros Grupos de Ação Local da região.
Na minha atividade profissional quer como responsável por áreas protegidas, como Diretor Regional das Florestas de Lisboa e Vale do Tejo e como vice-presidente da Câmara Municipal de Ourém participei ativamente nas dinâmicas do desenvolvimento local sobretudo nas áreas do turismo de natureza e da promoção dos recursos endógenos.
Alguns programas e estruturas de interpretação da natureza sobretudo no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, no Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurio da Serra de Aire e no Agroal/Alto Nabão e os mercados eco rurais em Ourém representam para mim uma enorme satisfação por concretizarem e aplicarem no território os conceitos da sustentabilidade e da proximidade às pessoas facilitados pela abordagem LEADER.
As políticas de proximidade entre os decisores e os territórios, o envolvimento comprometido dos agentes locais, o encurtamento dos circuitos entre a produção e os consumidores, a afirmação dos valores tradicionais genuínos e o acrescentar valor pela inovação sem descaraterizar a qualidade diferenciadora são ingredientes para um modelo de desenvolvimento que resgate os territórios em perda e permita almejar a tão desejada coesão territorial onde as pessoas, as comunidades, a economia e a qualidade de vida concretizem um relacionamento harmonioso e sustentável.
Revisitando os sete princípios LEADER que representaram uma abordagem inovadora, à época, encontramos as razões do sucesso deste contributo para o Desenvolvimento Local: Estratégias locais de desenvolvimento por zona; Abordagem ascendente no que diz respeito à elaboração e execução de estratégias; Parcerias locais dos setores público e privado: grupos de ação local; Ações integradas e multissetoriais; Inovação; Cooperação; Ligação em rede.
Esta dinâmica mostrou resultados e merece uma avaliação profunda para remediar os aspetos menos conseguidos e potenciar a enorme mais-valia que representou para o mundo rural.
A continuidade dos mercados eco rurais em Ourém com adesão crescente de produtores e clientes, as dinâmicas de turismo de natureza que garantiram a qualificação da nascente do Agroal (no Rio Nabão) e da sua envolvente e a sua integração na Rede Natura 2000, o Centro de Interpretação Subterrâneo do Algar do Pena(Santarém), o Centro de Interpretação da Gruta do Almonda (Torres Novas), a primeira intervenção interpretativa e de divulgação das Pegadas de Dinossáurio da Serra de Aire, a cooperação com os municípios de Cabo Verde geminados com municípios do Ribatejo Norte representam marcos importantes que me levam a acreditar que vale a pena este caminho de parcerias, compromisso e proximidade e empenho na valorização dos territórios, das suas gentes e da sua identidade.
A Arquiteta Maria João Botelho é para mim uma referência pelo seu percurso profissional e político, pela sua capacidade de colocar as ideias no terreno e sobretudo pela sua capacidade de envolver pessoas e entidades em parcerias concretas e mobilizadoras.
A sua capacidade em estabelecer pontes fica como marca no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, na região do Ribatejo e Estremadura, mas estende-se no País pela sua liderança nas áreas protegidas e na Federação Minha Terra, ultrapassando fronteiras quando liderou em representação desta organização a Associação Europeia ELARD - European Leader Association for Rural Development.
O Eng.º Nuno Jordão, o Eng.º Manuel Carrinho e todos os que deram início e garantiram a continuidade desta intervenção merecem as minhas felicitações e grata memória pelo caminho percorrido.
Recordo com profundo reconhecimento de gratidão o Eng.º Henrique Alvim que enquanto dirigente dos serviços regionais de agricultura em Tomar (Chefe da Zona Agrária) no âmbito dos trabalhos de elaboração do PDAR- Programa de Desenvolvimento Agrícola Regional quis envolver os ambientalistas da região nesse processo numa atitude inédita para os procedimentos na época.
A sua postura de diálogo, mas também de facilitador da participação de cidadãos empenhados no ativismo ambiental foi de grande importância para a incorporação de formas diferentes de olhar o território e os seus valores patrimoniais, em clara sintonia com o espirito proposto a seguir na abordagem LEADER.
No decorrer dessa dinâmica “PDAR” surgiu a fundação da ADIRN- Associação de Desenvolvimento do Ribatejo Norte que se institui como GAL-Grupo de Ação Local concretizando a abordagem LEADER nos 6 municípios do Ribatejo Norte que se mantém até hoje.
Uma vasta equipa constituída por técnicos e dirigentes das associações de desenvolvimento local (ADL), decisores políticos nacionais e locais, beneficiários, comunidades, pela sua capacidade de tornar real a abordagem LEADER no território merece que esta dinâmica continue e seja reforçada no futuro.
Terra Viva 2019A 3.ª edição do programa Terra Viva da Antena da TSF deu voz e ouvidos a 54 promotores e promotoras de projetos, beneficiários da Medida LEADER do PDR2020 através dos Grupos de Ação Local do Continente, entre os dias 3 de junho e 9 de julho de 2019. |
ELARD
A ELARD, constituída por redes nacionais de desenvolvimento rural, congrega Grupos de Ação Local gestores do LEADER/DLBC de 26 países europeus. A MINHA TERRA foi presidente da ELARD no biénio 2018-2019. |
54 Projetos LEADER 2014-2020 Repertório de projetos relevantes e replicáveis apoiados no âmbito da Medida 10 LEADER do Programa de Desenvolvimento Rural 2020 elaborado pela Federação Minha Terra. |
Cooperação LEADEREdição da Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural e Federação Minha Terra, publicada no âmbito do projeto “Territórios em Rede II”, com o apoio do Programa para a Rede Rural Nacional. |
O livro “Receitas e Sabores dos Territórios Rurais”, editado pela Federação Minha Terra, compila e ilustra 245 receitas da gastronomia local de 40 territórios rurais, do Entre Douro e Minho ao Algarve.
[ETAPA RACIONAL ER4WST V:MINHATERRA.PT.5]