2021-10-01
Iniciativa "Desenvolvimento Local em Portugal - Uma História Contada na Primeira Pessoa"
Sobre os ACTORES do LEADER e os 30 anos do Programa em Portugal
Sou uma das pioneiras neste projeto que tanto marcou a minha vida profissional.
Decorria a elaboração de um projeto de programação estratégica para os territórios rurais, um programa do Ministério de Agricultura, os PDAR – Programas de Desenvolvimento Agrário Regionais e, eu coordenava o PDAR de Tomar: uma comissão de acompanhamento composta de 20 entidades - públicas e privadas, locais, regionais e nacionais, uma equipa técnica pluridisciplinar, contratada por tempo determinado (um ano e meio para concluir o Relatório Final), com dois técnicos a tempo integral e um território constituído por 12 municípios para programar, em função do potencial endógeno.
Um dia, ao despachar o expediente, tomei conhecimento de uma tal Iniciativa Comunitária LEADER, programa a ser divulgado em Portugal, no decurso de um evento que decorreria em breve na UTAD, destinado a equipas de PDAR.
De imediato fiquei com todos os meus sentidos apurados, com toda a curiosidade pelotal programa que me parecia vir a calhar “que nem ginjas”, não só porque permitiria o enquadramento financeiro das propostas do PDAR, como me parecia uma janela de oportunidade para enquadrar aqueles dois técnicos que detinham a experiência e o conhecimento do território.
O coordenador do programa, o nosso saudoso Goulart Carrinho, o meu amigo Carrinho, com quem eu mantinha uma muito boa relação profissional, era quem ia apresentar o “LEADER”.
Jamais vou esquecer e, tratando-se aqui de memórias, não posso deixar de o referir: assim que o vi em Vila Real e o cumprimentei, à minha boa maneira (“numa de Maria Elizete”), disse-lhe logo que estava muitíssimo interessada no tal programa LEADER.
A reação dele foi inesperada, pois disse que só levava uma cópia e imediatamente ma entregou. Digam lá se não é caso para 30 anos depois eu ainda referir que não vou nunca esquecer este momento? Momento esse que foi registado pela objetiva do nosso amigo Xavier de Basto.
E foi assim que voltei para o então Ribatejo e Oeste, dona e senhora do único documento entregue em Trás-os-Montes!
Promovi uma reunião com os stakholders regionais e não parei mais de trabalhar na decisão de criar uma ADL, Associação de Desenvolvimento Local (sempre muito bem acompanhada por aqueles dois técnicos do PDAR, a tempo integral), para gerir um dos poucos GAL, Grupos de Ação Local, a quem seria atribuída uma subvenção global para financiamento de uma EDL, Estratégia de Desenvolvimento Local, a definir:
Missão? Visão? Oportunidade?
Acho que foi um pouco de tudo, exatamente nesta ordem: uma visão, para cumprir uma missão, quando surgiu uma oportunidade. Não será? Trinta anos depois, é assim que o sinto.
Foi, sem dúvida, um grande contributo pessoal e organizacional em todo este processo que acabei de referir. O crédito (credibilidade, respeito) que as entidades tinham pela minha atuação é que fez ser possível tudo isto. As pessoas respeitavam-me e deram-me “corda” para avançar.
Mas era claro para mim que acreditavam muito pouco num tão feliz desfecho: eu fui a Lisboa buscar o cheque e um milhão (de contos, então!). Sim um cheque! Foi há trinta anos, certo? Senti, naquele momento, que só então mostrei a todos que o assunto era mesmo sério. E aquele milhão multiplicou-se num território que compreendeu e aprendeu o DL como um modelo de desenvolvimento para os territórios rurais, em contexto de abordagem ascendente com decisões tomadas em consenso, com o envolvimento dos parceiros locais que passaram a sentar-se à mesma mesa, semi deologias políticas, mas apenas com um só objetivo: criar emprego e gerar rendimento, em ambiente sustentável.
Atualmente, os desafios para os territórios são muitos e são outros. Para os territórios rurais em particular e para a sociedade em geral: a globalização, as alterações climáticas e os recursos limitados do planeta.
Neste contexto, todos estamos convocados para o cumprimento dos ODS, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O desempenho dos GAL tem demonstrado nos territórios o quanto constituem parcerias indispensáveis. Os ODS, organizados pelas dimensões do desenvolvimento sustentável, em que as parcerias constituem o Eixo 4,não lhes podem passar ao lado.
s ADL detêm o conhecimento e o saber fazer acontecer. E, sem sombra de dúvida, há que evidenciar o real valor dos princípios LEADER noseio do(s) processo(s) de Desenvolvimento, ou seja:
Porém, este meu testemunho não se restringe à ADIRN e ao LEADER I.
Em fase de preparação das candidaturas para seleção de EDL para a gestão do LEADER II, fui convidada para dar assessoria à direção da ADIRI, uma ADL que, tal como a ADIRN, nasceu da comissão de acompanhamento do PDAR, o de Abrantes, muito na pegada da ADIRN.
Comecei por sugerir uma alteração ao seu nome e assim nasceu a TAGUS.
À data eu trabalhava na Região de Turismo dos Templários, Floresta Central e Albufeiras, com sede em Tomar, onde conheci um jovem estagiário que, apesar de licenciado em sociologia e pós-graduado em marketing, desempenhava funções muito aquém das suas qualificações. Um dia, conversando com ele, fiquei com curiosidade e pedi-lhe para me mostrar a sua dissertação de fim de curso. Li, gostei e… estou a falar do Pedro Saraiva, a quem perguntei se queria ir para Abrantes e me disse que sim. Não preciso de escrever mais nada, pois não? Ele fez um excelente trabalho como coordenador deste GAL, no Ribatejo Interior.
Não posso deixar de referir as principais influências e inspirações: as pessoas, as ideias e os momentos que me estimularam ou a quem inspirei. Alguns anos depois, em visita profissional à zona rural de Sintra, como diretora regional de agricultura e pescas da região de Lisboa e Vale do Tejo (ou ainda como diretora de serviços, não sei bem), dei comigo a perguntar-me por que razão não poderia haver uma ADL, promotora do desenvolvimento local, na zona rural da AML, Área Metropolitana de Lisboa. E, porque não, também gestora de um programa baseado na abordagem LEADER, agora DLBC, Desenvolvimento Local de Base Comunitária?
Mais uma vez “dei uma” de Maria Elizete, “pus a boca no ventilador” que é comoquem diz, pessoas certas nas horas certas que me ouviram e perceberam que asminhas palavras faziam sentido.
E assim nasceu a A2S nas zonas rurais de Mafra, Loures e Sintra como território de intervenção. Passei a ser “madrinha”: da A2S, da Márcia, do Joaquim Sardinha e do Pombinho.
Influências? Inspirações? Coincidências? Pois não sei! Mas a verdade é que, hoje, aposentada da Administração Pública, dou aulas no ensino superior privado, onde acabo de ser convidada pela escola para a realização de trabalhos de investigação (orientados para o desenvolvimento e/ou teste de ferramentas e metodologias que possam ser aplicadas de forma inovadora na Monitorização e na Avaliação dos fundos da União Europeia aplicados em Portugal). Os estudos a desenvolver deverão ter, necessariamente, como objeto de aplicação as intervenções, os programas e/ou as políticas públicas enquadrados pela Estratégia 2030 e os Objetivos de Política definidos na proposta de Regulamento das Disposições Comuns para o período 2021-2027 da Política de Coesão.
É neste contexto que pretendo “iniciar-me na investigação” e, se a candidatura for aprovada, as coincidências da vida voltam a pôr-me a Abordagem LEADER “no colo”uma vez que será esse o mote para o meu trabalho.
As MERECIDAS HOMEAGENS
À Rosário Serafim
Uma amiga!
Uma profissional competente e muito empenhada.
O céu levou-a cedo demais.
Dela recordo principalmente o trabalho na Rede Rural Nacional
Ao Goulart Carrinho
Meu amigo. Mesmo!
Não gosto de me lembrar da última vez que conversámos. O assunto era muito mau!
Relacionado com a Tagus. Ele estava a ser usado numa “trica” de políticos, vestiu a camisola do dever de cumprir e, assumiu decisões erradas que não eram suas.
Foi para o Céu em consequência. Meu amigo Carrinho. Entre muitas outros momentos recordo-te num deles, muito especial, na Albufeira do Castelo do Bode, na Serra de Tomar, com a Otília.
Ao Nuno Jordão
Conheci-o muito pouco porque quando ele chegou já eu andava noutras funções e poucas vezes nos cruzámos nos caminhos do DL.
Recordo-o já doente, quase incapacitado, mas sem desistir!
Ao Francisco Botelho
Pioneiro como eu!
Filhos da mesma cepa!
Da primeira geração do DL.
Como esquecer todos os primeiros passos que demos juntos?
O céu levou-o muito cedo.
Terra Viva 2019A 3.ª edição do programa Terra Viva da Antena da TSF deu voz e ouvidos a 54 promotores e promotoras de projetos, beneficiários da Medida LEADER do PDR2020 através dos Grupos de Ação Local do Continente, entre os dias 3 de junho e 9 de julho de 2019. |
ELARD
A ELARD, constituída por redes nacionais de desenvolvimento rural, congrega Grupos de Ação Local gestores do LEADER/DLBC de 26 países europeus. A MINHA TERRA foi presidente da ELARD no biénio 2018-2019. |
54 Projetos LEADER 2014-2020 Repertório de projetos relevantes e replicáveis apoiados no âmbito da Medida 10 LEADER do Programa de Desenvolvimento Rural 2020 elaborado pela Federação Minha Terra. |
Cooperação LEADEREdição da Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural e Federação Minha Terra, publicada no âmbito do projeto “Territórios em Rede II”, com o apoio do Programa para a Rede Rural Nacional. |
O livro “Receitas e Sabores dos Territórios Rurais”, editado pela Federação Minha Terra, compila e ilustra 245 receitas da gastronomia local de 40 territórios rurais, do Entre Douro e Minho ao Algarve.
[ETAPA RACIONAL ER4WST V:MINHATERRA.PT.5]