30 anos de LEADER: Testemunho de Carmo Ambrósio

Iniciativa "Desenvolvimento Local em Portugal - Uma História Contada na Primeira Pessoa"

Carmo Ambrósio, Coordenadora dos GAL Aveiro Norte e GAL Aveiro Sul/Agente de Desenvolvimento Local

A primeira vez que ouvi falar do Programa LEADER foi em 1996, ainda nos bancos da Universidade, na cadeira de Sociologia do Planeamento Regional… Soube, então, que existia uma iniciativa comunitária que envolvia as pessoas na construção de processos de desenvolvimento. Fiquei fascinada pelo programa, era de facto algo de diferente; permitia pensar, criar… permitia que os sonhos pudessem dar lugar a projetos, e que esses projetos mudassem vidas!

Em março de 1998, através de um estágio profissional, integrei a ADRUSE – Associação de Desenvolvimento Rural da Serra da Estrela, uma das primeiras vinte ADL de Portugal.

Com 22 anos estava a trabalhar numa das organizações que geria o programa LEADER, aquele programa que dois anos antes me tinha fascinado!

A partir daí e até hoje o desenvolvimento local tem estado de forma permanente na minha vida.

Para mim, pensar em desenvolvimento local é pensar simultaneamente no programa LEADER, enquanto um método de trabalho que promove o exercício da cidadania, que promove uma discussão virtuosa em prol de um desígnio maior: o bem-estar das comunidades locais.

Este programa introduziu em Portugal um método de trabalho inovador, que cria um ambiente propício à emergência de projetos que contribuem, efetivamente, para as economias locais, e que, na sua maioria, subsistem às adversidades da vida e vão proliferando.

De facto, por via deste programa, foi possível criar um conjunto de organizações, em todo o país, e introduzir nos territórios novas dinâmicas, numa lógica de construção conjunta do futuro, de partilha de responsabilidades e de aprendizagem permanente.

Em todo o meu percurso profissional, primeiro na ADRUSE e, mais recentemente, na AIDA CCI – Câmara de Comércio e Indústria do Distrito de Aveiro, constato que o LEADER não é um programa do Interior ou do Litoral, não é um programa de ricos ou de pobres, é um programa das Pessoas!

Os princípios que lhe estão subjacentes fazem de facto a diferença face a outras intervenções. Destaco a existência de uma parceria, representativa das comunidades locais, que integra entidades públicas e organizações da sociedade civil, que conjuntamente assumem a responsabilidade de gestão e implementação de uma estratégia; a visão holística dos territórios, encontrando soluções integradas na resposta aos problemas e/ou na promoção dos seus ativos, através da participação e de processos de co-construção; destaco ainda, o trabalho em rede e a cooperação, permitindo a partilha de experiências e a aprendizagem contínua entre pares.

E, depois de 30 anos, estes princípios mantêm-se atuais: o desenvolvimento sustentável só acontece se houver empoderamento das comunidades locais, se elas sentirem que fazem parte da solução, que a sua opinião é escutada.

Ao longo destes anos, e apesar de todas as vicissitudes, é por demais evidente que os processos de desenvolvimento local são fundamentais para os territórios. Sempre que as pessoas são envolvidas e comprometidas os territórios ficam mais capacitados para responder aos desafios que se colocam. 

Pensar no desenvolvimento local e no programa LEADER, é pensar em todo o meu percurso e em todas as pessoas com quem me tenho cruzado, e com as quais estou sempre a aprender. O desenvolvimento local é empoderamento, é exercício da cidadania, é participação, é fazer acontecer!

Em toda esta caminhada, continuo a admirar todos aqueles que fazem ou fizeram parte da família LEADER, pela sua irreverência, ousadia e inconformismo; pela sua resiliência e vontade contínua de lutar pelas comunidades locais. 

Que os princípios LEADER continuem a pautar as intervenções de desenvolvimento local no nosso país…