30 anos de LEADER: Testemunho de António Sales Gomes

Iniciativa "Desenvolvimento Local em Portugal - Uma História Contada na Primeira Pessoa"

António Sales Gomes, RAIA HISTÓRICA

No início na vida ativa após o meu regresso da Guerra do Ultramar surgiu-me o convite de participar num projeto inovador, próprio da época revolucionária de 1975.

O S.A.D.A. (Serviço de Apoio ao Desenvolvimento Agrário), foi o princípio de um percurso no desenvolvimento local, com a primeira ação de formação no centro de formação do Couto, nas Caldas da Rainha em 1976. A atividade desenvolvida no Ministério da Agricultura, após essa data, foi sempre de apoio técnico e formação configurando-se então um caminho na área do desenvolvimento rural.

Durante esse período ajudei a criar uma cooperativa de compra e venda, a PINHELCOOP, uma associação de criadores de ovinos e caprinos, a COVICOA e, ainda, uma cooperativa pecuária, a PECUSCOA que posteriormente evoluiu para uma sociedade entre produtores, a LACTICOA.

No início dos anos 90 após a implementação do Programa de Iniciativa Comunitária LEADER I e a proximidade de lançamento do Leader II, a oportunidade de participação na constituição da Associação RAIA HISTÓRICA, a qual se definiu como um grande marco de afirmação profissional.

Com este Programa criou-se uma equipa que gradualmente foi crescendo e até hoje se mantém, não obstante há alguns anos ter terminado a minha colaboração neste processo com a minha aposentação.

Durante o LEADER II tivemos momentos muito expressivos como constitui exemplo a cooperação na implementação do projeto “ALDEIAS HISTÓRICAS” com a CCDR Centro e o INATEL. Também o aparecimento dos Centros Rurais permitiu-nos desenvolver projetos infraestruturais tendo, coordenado três centros rurais em simultâneo.

Durante o período de implementação deste programa de iniciativa comunitária dinamizámos eventos para promoção e incremento das atividades económicas do território, os quais vieram a ter projeção nacional, como seja a Feira de S. Bartolomeu em Trancoso e a Feira das Tradições em Pinhel.

No relatório de saldo de execução do LEADER II, foi com enorme orgulho e satisfação, que a RAIA HISTÓRICA foi reconhecida como a primeira associação no projetado e executado a nível nacional.

Não devemos deixar de fazer referência que no LEADER II, LEADER+, PRODER, PDR e CENTROS RURAIS a RAIA HISTÓRICA geriu mais de €30.000.000,00, que proporcionaram o reequipamento e modernização das explorações agrícolas, valorização dos produtos locais, assim como de todo o património construído e cultural da região.

Também de referenciar que um dos fatores importantes que de motivação e valorização de todo este processo local de desenvolvimento foi a cooperação. A de natureza interterritorial foi muito importante para a criação de um espírito de solidariedade profissional, interajuda e comunhão de ideias, em que realço a parceria com as Associações de Desenvolvimento Local Pinhal Maior, ADIRN e Pro-Raia. A de natureza transnacional permitiu aos técnicos e associados da RAIA HISTÓRICA assim como aos agricultores uma troca de experiências e um rasgar de novos horizontes, alianças comerciais e cooperação com os PALOP - Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. Neste ponto, recordo com saudade o Jorge Guimarães de Cabo Verde.

Durante as quase duas dezenas de anos de trabalho em prol do desenvolvimento local recebi muitos ensinamentos e ideias de Pessoas como o Camilo Mortágua, com quem fiz o primeiro projeto transnacional, o saudoso amigo Francisco Botelho com quem convivi desde o início e me sugeriu várias temáticas e métodos para a candidatura ao LEADER II. Também referencio o Guilherme Lewis, primeiro técnico de acompanhamento LEADER da RAIA HISTÓRICA, com quem mantive um relacionamento profissional por toda a vida.

Vários são aqueles que deixaram de nos acompanhar, mas se mantêm presentes na memória LEADER como o Goulart Carrilho, a Rosário Serafim, o Nuno Jordão, o Ilídio Mesquita, a Margarida Gomes, o Pedro Dornellas, o Manuel Abrantes e, tantos outros, que de momento não me recordo, mas que os sinto como parceiros vivos desta história.

Do atrás relatado torna-se mais que evidentes o papel do LEADER nos territórios rurais e mais não realço porque o trabalho desenvolvido fala por si.